Parte 07
Em completo
silêncio foi como voltamos para casa. Eu sabia que não deveria ter ido. De
qualquer forma, mandei várias mensagens para Castle, mas ele não respondeu
nenhuma. Eu não queria que ele tivesse ficado tão magoado, e ele não sabia
metade do que tinha acontecido entre Addison e eu, mas para ter ficado tão
chateado com apenas um sinal, o sentimento dele deveria ser grande. Isso me
pegou de surpresa. Eu não fazia ideia de que ele se sentisse daquela forma por
mim. Ao entrar no apartamento deixei minha bolsa em cima do balcão, peguei uma
cerveja na geladeira e me joguei no sofá. Addison sentou-se ao meu lado, ainda
sem dizer nada, e colocou a mão em minha perna. Seus olhos estavam tristes, e
eu percebia que apesar de estar disposta a conversar, ela tinha medo do que
aquela conversa significaria.
— Kate... –
ela começou, parecendo procurar as palavras certas. — Você sabia que uma hora
ele iria eventualmente descobrir...
— Talvez, mas
não seria dessa forma. – tomei um gole da cerveja, oferecendo-lhe um pouco, mas
ela recusou.
— Talvez? –
levantou uma sobrancelha.
— Sim, talvez.
Ou talvez ele não soubesse de nada e quando você voltasse para LA estaria
terminado e ele nunca iria lhe conhecer. – eu estava tão irritada que não
pensei muito para falar, e só depois percebi que ela hesitou alguns segundos, e
retirou a mão da minha perna.
— É isso o que
você pensa de mim? De nós? – encarei-a e ela olhava-me magoada.
Surpreendentemente aquilo me doeu.
— Não, Addie,
eu só... – suspirei fundo e encostei-me no sofá, colocando a cabeça para trás.
— Seja
sincera, Kate. Você pelo jeito só está aproveitando esses dias e não pensa no
futuro. Não considera tudo o que eu já lhe disse... O que você me disse... – a voz
dela falhou na última frase.
— Eu
considero. – endireitei-me, sentando-me de lado para poder olhá-la nos olhos. —
Eu só não sei o que fazer. Estou confusa, e isso não é fácil. Você lembra
quando me conheceu, não lembra?
— Claro que
sim. – um sorriso passou-lhe pelos lábios, fazendo-me sorrir também. Coloquei a
garrafa pela metade no chão e segurei em suas mãos.
— Então,
naquele final de semana eu estava triste e chateada, e sozinha, e você lembra o
porquê? – ao sinal afirmativo de cabeça eu continuei. — Castle havia me
convidado para ir passar uns dias em sua casa em Hamptons com ele, mas eu sou
cabeça dura, não queria admitir meus sentimentos tão cedo, e neguei por vários
dias. Então sua ex-mulher chegou e quando eu terminei com meu namorado – na
época eu namorei um carinha por uns meses – descobri de quem eu realmente
gostava. Mas não deu tempo para me declarar, pois ele a convidou para ir com
ele e ela foi. E aí eu me fechei e resolvi esconder esses sentimentos.
— Foi quando
me conheceu. – seus olhos estavam marejados.
— Sim, foi
quando eu a conheci. Você atravessou meu caminho, atravessou minha história, e
me fez enxergar coisas e sentir coisas que eu nunca havia sentido. Não tenho
preconceito, mas jamais imaginei que eu fosse me sentir assim por uma mulher,
já que eu nunca me sentira atraída por uma antes, de verdade. E tudo pareceu
mais fácil, e eu quis aproveitar esse tempo. Foi bom, muito bom. Mas a
avalanche de sentimentos que vieram depois... Eu não estava preparada para isso.
Sou uma pessoa muito fechada. E desculpa, Addie, mas Castle esteve presente em
minha vida por dois anos, e eu já o admirava pelos seus livros...
— Entendo. Por
isso você se aborreceu tanto hoje...
— E pelo fato
de que esse simples sinal de batom em meu pescoço ter magoado-o tanto deve
significar que seus sentimentos por mim não são tão superficiais assim...
— O que você
pretende fazer? – ela me perguntou, e eu sentia que aquela pergunta significava
nosso futuro.
—
Sinceramente? Eu não sei. – respondi, desviando o olhar.
— Beckett,
você sabe que eu te amo. Eu já lhe disse isso. E pra eu estar em NY em tão
pouco tempo de novo... Eu tenho esse congresso, mas ele não é tão importante
assim. Eu vim por sua causa. Porque ficar longe de você tanto tempo tem me
parecido impossível. Eu não queria que Castle tivesse essa terrível impressão
de que roubei a namorada dele, e eu não queria ter feito isso. Mas... Aconteceu
de eu entrar naquele bar e te conhecer e as coisas rolarem. Eu não planejei, e
eu também tenho medo, mas eu não posso me esconder. Você não pode me esconder.
Eu posso ficar por você, mas se você me quiser, Kate.
Ficamos em silêncio por um momento,
uma olhando dentro dos olhos da outra. Eu não tinha a resposta que ela queria.
Eu estava muito confusa, e não podia decidir meu futuro como quem joga uma
moeda para o alto. Eu precisava pensar, ter um tempo para mim, entender o que
eu queria e como eu queria. E infelizmente isso poderia significar um tempo no
que quer que seja que estivesse acontecendo entre nós, e ela sabia disso. Ela
suspirou, fechando os olhos, e quando os abriu uma lágrima rolava pelo seu
rosto. Por que? Por que tínhamos que ter nos machucado daquela forma? Ela se
levantou, puxando-me pela mão para segui-la, e eu não ofereci nenhum tipo de
resistência. Andamos até meu quarto, e a ruiva, que era sempre tão cheia de
surpresas e truques deliciosos, simplesmente deitou-se na cama, de lado.
Deite-me ao seu lado, e ficamos nos olhando por um momento.
— Eu não quero
brigar com você; não agora, não hoje. Eu já sei que não posso mais ficar aqui.
Eu vou voltar para Los Angeles, e você vai ter o seu tempo. Eu vou te esperar
lá, não sei por quanto tempo. Me prometa que vai voltar?
— Não posso
prometer... – passei os dedos pelo seu rosto macio. Ela beijou meus dedos,
mordendo-os de leve. — Nós vamos nos ver de novo, disso eu sei, mas mais que
isso...
— Eu amo você.
– ela sussurrou para mim. Aproximou-se de mim, e beijou-me profundamente. Seus
dedos passando pelo meu corpo, tocando-me de leve. Ela desceu a boca pelo meu
pescoço e mordeu, subindo perto da orelha, beijando, mordiscando. Enquanto eu
gemia de olhos fechados.
Novamente, mesmo naquele momento,
completamente envolvida pelas carícias de Addison, pelo sentimento que eu tinha
por ela, pelo desejo irracional que ela me proporcionava, pelo ardente tesão
que eu tinha por ela... Naquele momento o que nós fizemos foi amor. É, talvez
seja assim brega, talvez seja clichê, mas é verdade. O desejo carnal que
tínhamos uma pela outra era demonstrado na urgência de tomar nossos corpos e
saciá-lo o mais rápido possível. Era fogo, era paixão, era loucura. E dessa
vez, não. Era calmaria, era tristeza, era perda. Era amor. Era profundo, muito
profundo. A ruiva me beijou, me acariciou, deitou-se sobre mim e me tomou por
completo. Com calma e carinho, como se naquele gesto pudesse levar uma parte de
mim com ela quando se fosse.
Naquele momento meu coração se
apertou e eu chorei. Nunca tinha chorado no meio do sexo, sempre achei isso
bizarro, mas eu chorei. Não chorei de me debulhar em lágrimas, mas algumas
caíram pelo meu rosto. O gosto da despedida era amargo. E se eu me sentia tão
mal por ela ir embora... Eu sabia o que isso significava. Mas ainda assim... Eu
precisava realmente pensar. Não podia me levar de novo pelo sentimento. Por
isso deixei haver a despedida. Despedida essa que eu aproveitei. Fiz de Addison
minha, marcando-a com meus beijos e mordidas, dando-lhe sensações
inesquecíveis, e orgasmos que significaram mais do que simples orgasmos. E pode
parecer cruel, mas no momento foi maravilhoso, quando ela, completamente
extasiada de prazer, gemeu meu nome contra meus lábios, e depois me beijou
ardentemente. Depois do sexo ficamos abraçadas na cama, sem nada dizer, só
aproveitando o resto da noite até cairmos no sono.
Na manhã seguinte eu tinha que
voltar para a delegacia, e Addison iria embora à noite. Acordamos numa boa, com
direito a beijos e carinhos, apesar da despedida. Ela iria me acompanhar até o
distrito, queria conversar com Castle, desfazer aquele clima ruim que ficara.
Eu também tinha que conversar com ele, mas isso era outra história. Eu ainda não
sabia como iria fazer. Chegamos à delegacia e Esposito me olhou esquisito, e
logo eu soube o porque. Castle estava sentado à minha mesa, cabisbaixo, nem
parecia o mesmo escritor alegre e brincalhão, e aquilo cortou o meu coração.
Fiz um gesto para o meu colega de não saber o que havia acontecido.
Aproximamo-nos do escritor, que levantou a cabeça e ao nos ver fitou Addison
com o semblante fechado.
— Bom dia,
Castle. – eu comecei, e logo vi duas xícaras de café em cima da mesa. E mais
uma em suas mãos.
— Bom dia. –
ele balançou a cabeça. E então Addison se adiantou.
— Castle, eu
queria falar com você, se estiver tudo bem. – ela colocou uma mecha do cabelo
atrás da orelha, encostando-se na mesa.
— Pode dizer. –
ele cruzou a perna, colocando-a em cima do joelho.
— Bem, eu
queria me desculpar pela outra noite. Eu não sabia de muita coisa quando
cheguei, e as coisas aconteceram, mas eu não pretendia machucar ninguém. Sei
que eu não sou aquela que deveria conversar com você, mas não queria esse clima
chato. Você é realmente um cara legal e engraçado, uma pena que nos conhecemos
assim. – ela estava nervosa, dava pra perceber. E pra minha surpresa, Castle se
levantou, e deu um longo abraço na ruiva. Fiquei de olhos arregalados,
observando a cena como se não estivesse ali.
— Desculpado,
Addison. – ele lhe disse quando a soltou. — Eu não sou bobo, como aparento ser.
Kate é livre, solteira e pode sair com quem bem entender. Ontem apenas eu fui
pego de surpresa. Tanto por ser alguém quanto por ser uma mulher. Estamos numa
boa, tudo bem? Também lamento termos nos conhecido assim, você continua
completamente linda e encantadora. – ele riu, agora parecendo mais como ele
mesmo. — Até quando você vai ficar na cidade?
— Hoje estou
indo embora. – ela disse com pesar.
— Não é por
minha causa, é? – ele franziu o cenho e olhou para mim. Desviei o olhar.
— Não, não se
preocupe. Eu terminei o que tinha pra resolver na cidade, e acredito que no
momento não há mais nada que eu possa fazer a não ser esperar. – ela olhou
rapidamente para mim, ele acompanhou seu olhar. Castle concordou com a cabeça.
— Espero nos
vermos outra vez. Se eu não lhe ver de novo, boa volta. – ele abraçou-a de novo
e saiu, indo para a sala de descanso.
Olhamo-nos por um momento, e a ruiva
estava sorrindo. Ela riu e balançou a cabeça negativamente, e depois me disse
para ir atrás dele. Sentou-se na cadeira ao lado da minha mesa e eu fui atrás
de Castle. Ele estava de pé, de costas pra porta, tomando seu café.
Aproximei-me, ainda sem saber o que dizer.
— Castle... –
ele se virou para mim, parecia cansado. — Me desculpe. Eu devia ter lhe dito.
Mas... Você sabe, eu... Não é fácil para mim dizer certas coisas...
— Eu sei. –
ele sorriu, olhando-me com ternura. — Como eu disse a Addison, não se incomode
com ontem à noite. Eu sei que você precisa de um tempo, só preciso saber de uma
coisa.
— O que? –
perguntei não sabendo se ia gostar da resposta.
— Eu quero
saber se já tive alguma chance... E o mais importante: se ainda tenho alguma
chance.
— Sim. –
suspirei antes de continuar. — Para ambas as perguntas. Mas não há garantias...
No momento só preciso de... Tempo.
— O tempo que
quiser, se eu puder estar por perto.
— Beckett? –
Ryan apareceu na porta, interrompendo nossa conversa. Nós nos voltamos para
ele, ouvindo o que tinha a dizer. — Um homicídio no alto da cidade acabou de
acontecer, nos chamaram para ir. Achei que gostaria de saber.
— Obrigada,
Ryan, já estamos indo.
Agradeci por mais um caso, pelo
menos eu conseguiria ter um pouco de sossego daquela história toda. Addison
saiu para o congresso que ela tinha que ir e eu fui com Castle para o local do
assassinato. Enquanto estivemos juntos ele fez o favor de não tocar no assunto
e fazer várias brincadeiras, para me fazer rir. Eu gostei disso, mas tentei
deixar esses pensamentos no fundo da mente e só me deixar levar pelas
brincadeiras e pelo caso em andamento. Um homem havia sido assassinado com uma
machadada na cabeça, e nada havia sido roubado. Havia pegadas pelo local, o
apartamento dele, e sinais de arrombamento. Mandamos investigar sua vida, se
tinha família ou alguém próximo, enquanto a perícia verificava o local. Laine
veio ver o corpo, e após a constatação dos ferimentos no crânio, ela me olhou
como se me analisasse.
— O que foi? –
fingi que não sabia do que se tratava.
— Acho que
você está precisando de uma boa conversa... E sorvete com vinho.
— Acho que
sim... – sorri agradecida. — Quem sabe nessa semana...
Passamos o dia todo praticamente
atrás de mais informações da vítima, interrogamos o porteiro do prédio, amigos
e pessoas do trabalho. Recolhemos tudo o que podíamos, e então voltamos para a
delegacia. Montei o quadro do caso, com as fotos das pessoas que o viram por
último, e os últimos lugares que ele foi. Ocupei a cabeça e por algumas horas
não pensei na bagunça que estava minha vida pessoal. Mas quando a noite chegou,
eu não pude mais me esconder do que teria que fazer. Passei em meu apartamento
e Addison já estava com as malas prontas. Conversamos um pouco e eu a levei até
o aeroporto, novamente. Como era de noite, estava mais tranquilo, e ainda
faltava um tempo até o seu check in. Ficamos sentadas conversando sobre
diversas coisas, até chegar a hora da despedida, novamente.
— Kate,
obrigada por tudo. – ela me abraçou forte e apertado.
— Eu que
agradeço pelos dias maravilhosos. – beijei seu pescoço e comecei a falar
baixinho: — Eu amo você, e isso não vai mudar, não importa minha decisão.
Espere por mim, mas não espere para sempre. Não lhe prometo voltar, mas prometo
lhe ver de novo. Ok?
— Okay. Eu
também amo você. E espero que da próxima vez que nos virmos, não haja mais
despedidas. – ela sorriu, afastando-se um pouco para me olhar, e então me
beijou.
Sentia-me triste ao vê-la indo
embora, sem saber quando ia ver ela de novo. Sinceramente? Eu esperava que
logo, mas nada me prepararia para o rumo que as coisas iriam tomar. Se eu
soubesse... De qualquer forma, eu tinha uma casa para voltar, muita coisa em
que pensar, um caso pra resolver e um Richard Castle para lidar.
Ahhhhhhhhhh, aqueles capítulos que lemos com lágrimas nos olhos! Eu amei o capítulo, e em partes entendi porque eu inconsciente demorou a fazer com que eu viesse aqui,...é muito triste! T_T kkkk VOLTA ADDIEEEEEEEEEE! Triste, mas como eu amo drama, ficou perfeito! Adorei você abordar as dúvidas da Kate! Afinal, nada é só um mar de rosas
ResponderExcluir