Levantou-se, colocou o roupão, calçou os chinelos, e foi ao banheiro. Depois, rumou à cozinha, coçando os cabelos castanhos, os olhos incomodados com a luz do dia, a boca seca. Em cima da mesa a caneca de café intocada. Estava frio, como todo o resto. Não mexeu nela. Fez um novo café, colocou em uma xícara de porcelana que estava no armário, e se encostou nas enormes portas. Em pensar que na manhã do dia anterior tudo fora diferente, estivera... Cheio. Quente. E agora, estava tudo frio. Vazio. Solitário. Dividira seu café com ele, sua cama aconchegante, um lugar em seu armário abarrotado. Torcera com ele nas noites de quarta-feira, aliás, contra ele. Era são-paulina, e ele? Corintiano roxo. Sorriu com o pensamento. Mas decidiu que não veria mais futebol. Olhou a sua volta, aquele azul horrível cobrindo as paredes, e em quantas vezes ele lhe pedira que pintasse de uma cor mais alegre. Agradeceu sua teimosia, talvez se as paredes fossem laranjas, vermelhas ou verdes, ela não aguentaria olhar para elas agora. O azul era dela, do modo como queria, e era ela que iria ficar ali, afinal, enquanto ele iria embora, como tantos outros. Logo ele, que sempre jurara que sua escova de dente azul nunca se dera tão bem com outra escova de dente azul, e que elas deveriam casar, mesmo sendo ambas azuis, e mesmo que as outras escovas implicassem. Logo ele, que a acompanhava nos copos de cerveja e nas conversas intermináveis de madrugada sobre filosofia. Logo ele, tão sabido, tão ele, havia se tornado tão nada, tão ninguém. Aliás, era o contrário.
Ele continuava sendo tão ele, tão ele que já havia encantado outra qualquer. Ela que era tão nada, tão ninguém, e estava tão fria, como o café que permanecia na mesa. Café preto, sem graça, sem cor. Os dias iriam se arrastar, e pra falar a verdade, ela não sabia pra onde ir, nem onde ficar, só queria ficar. Parada, estática, com alguém. Mas não havia ninguém, não havia um lugar, nem um tempo. Estava suspensa. Ele havia ido, embora ela insistira para que ficasse. E agora? Agora ela iria aos poucos, retirando o que restara dele do ambiente. Livrando-se cada dia de algo, e reganhando algo de si mesma. O café... Talvez ela nunca mexesse naquela xícara de café. Não se importava, e talvez somente para não vir bichos, colocaria na geladeira, mas não jogaria fora. Ah, não! Ela dividira seu mais íntimo com ele, sua bebida essencial, e após um mínimo gole, ele abandonara a bebida em cima da mesa, esfriando, enquanto despedia-se dela com um beijo no rosto e um desejo de bom futuro. Tudo bem, ela ia recolher aquele café e não o abandonaria, por mais frio e velho que ficasse. Quem sabe um dia, não o trocaria por chá, mas por ora, o café ali ficaria. Frio, sem graça e velho, mas seu companheiro.
Ele continuava sendo tão ele, tão ele que já havia encantado outra qualquer. Ela que era tão nada, tão ninguém, e estava tão fria, como o café que permanecia na mesa. Café preto, sem graça, sem cor. Os dias iriam se arrastar, e pra falar a verdade, ela não sabia pra onde ir, nem onde ficar, só queria ficar. Parada, estática, com alguém. Mas não havia ninguém, não havia um lugar, nem um tempo. Estava suspensa. Ele havia ido, embora ela insistira para que ficasse. E agora? Agora ela iria aos poucos, retirando o que restara dele do ambiente. Livrando-se cada dia de algo, e reganhando algo de si mesma. O café... Talvez ela nunca mexesse naquela xícara de café. Não se importava, e talvez somente para não vir bichos, colocaria na geladeira, mas não jogaria fora. Ah, não! Ela dividira seu mais íntimo com ele, sua bebida essencial, e após um mínimo gole, ele abandonara a bebida em cima da mesa, esfriando, enquanto despedia-se dela com um beijo no rosto e um desejo de bom futuro. Tudo bem, ela ia recolher aquele café e não o abandonaria, por mais frio e velho que ficasse. Quem sabe um dia, não o trocaria por chá, mas por ora, o café ali ficaria. Frio, sem graça e velho, mas seu companheiro.
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