Menina-café


Todos os dias eu acordava cedo, e ia zumbizando até o banheiro, depois me arrastava até a cozinha na intenção de começar a preparar meu café. Colocava o pó no coador, e sentava-me na bancada esperando ficar pronto. Meu único alento era saber que logo aquele cheiro delicioso iria me embriagar, e que logo eu iria me deliciar em seu sabor. Todos os dias a única certeza que eu tinha, que me animava o dia, era saber que eu tinha o meu sagrado café a me fazer companhia.

Então, um dia acordei de um pulo, coração acelerado, o dia já tardava pela janela. Não ia dar tempo de fazer o café! O mau humor já me pegou de jeito, e eu previ que seria um dia ruim daqueles. Mas foi então que o cheiro característico invadiu minhas narinas. Achei que estava maluca, sonhando, ou delirando, pra falar a verdade. Curiosa, nem fui ao banheiro, deixei-me guiar pelo meu tão amado cheiro. Flutuando até a cozinha, parei escorada no batente da porta, e foi a visão mais linda que eu já tive.

Lá estava ela, de costas pra mim, escorada na bancada, colocando o café no coador, e depois o colocando na cafeteira. Os cabelos castanhos caiam-lhe pelos ombros, bagunçados, de quem acabou de acordar. Nas pontas dos pés, ela se esticava toda para pegar as canecas na prateleira de cima, vestindo apenas uma regata branca e uma calcinha de algodão de listras rosa e branca. Um sorriso instantâneo veio aos meus lábios, e eu me peguei admirando suas belas curvas, suas pernas bonitas, o bumbum, seu quadril, seu jeito... Parecia estar absorta nessa tarefa tão simples e que pra mim sempre fora tediosa.

Aproximei-me como quem não quer nada, passando os braços pela sua cintura, encostando meu corpo ao dela. Arrepiou-se inteira, sorrindo e rindo pra mim. Foi o riso mais lindo. Mandou-me sentar que o café logo estaria pronto. Indaguei-a sobre qual o motivo de acordar mais cedo, e fazer-me aquele favor. Respondeu-me com a mais sincera e ingênua resposta:

— Eu sei que você gosta, quis fazer pra você. Achei que fosse gostar de uma xícara de café e um beijo de bom dia.

          Meus olhos sorriram, e meu corpo se aqueceu ao som da sua voz. Deixei a resposta ir penetrando aos poucos em meu corpo, assim como seus dedos o fizeram na noite anterior. Observei-a enquanto esperava ficar pronto, e estremeci ao ver seus seios transparecendo pela regata branca. Ela tirava os fios do cabelo do rosto, colocando-os atrás da orelha, e ao me olhar, soltou um risinho sapeca e veio até mim, sentando-se no meu colo, e eu demorei meus olhos nos dela.

       Tocou os meus lábios com os dela, suspirando contra minha boca, deixando que minhas mãos viajassem pelo seu corpo macio. Escondeu o rosto entre meus cabelos vermelhos, aspirando o cheiro da minha pele, e eu me arrepiei. Ela riu. Mordeu meu ombro e se levantou, indo até a cafeteira, colocando o café na xícara e me entregando, sentando-se novamente em meu colo, mas dessa vez de costas. Pousei uma das mãos em sua cintura, enquanto a outra segurava a xícara de café.

            Então, eu já não me importava mais com o cheiro do café, e quando o líquido tocou em meus lábios, nem mesmo o gosto não era mais tão saboroso. Eu sorri, encostando o rosto em suas costas carinhosamente, apertando-a a mim. Ela me fazia acordar cedo, o seu cheiro de menina me embriagava, os seus toques me relaxavam e ela animava o meu dia. Sem que eu percebesse, começara a me fazer companhia todos os dias. Tomei um gole do café, estava delicioso. Beijei sua nuca, mordiscando-a, sussurrando em seu ouvido: “Minha menina-café”. Ela ronronou em resposta, com um suspiro, e eu me arrepiei novamente. Sorri. Ela era mais gostosa que café, mais cheirosa que café, e o mais importante, ela era toda minha.

Um comentário

  1. Oi, Laris! Sei bem como é. Café é bom, mas ter um alguém que nos prepare um por carinho, por amor, é bem melhor até mesmo que o expresso [sorrio]. Legal! Blogueira, aproveito e convido para que leia e comente “THE SMITHS, O CONTO” em meu http://jefhcardoso.blogspot.com

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