Imagens Que Contam Histórias 24


Era tarde da noite, e sem conseguir dormir, rolando de um lado para o outro na cama, resolvi levantar e depositar meus pensamentos em um papel velho: eu ia lhe escrever uma carta. Deixei com que a caneta facilmente deslizasse no papel, imprimindo todas as minhas dores e dúvidas. Essa incerteza de não ter, não pertencer, queimava-me a alma, e agora era como se a caneta estivesse incandescente. A tarefa era árdua, mas continue abrindo-lhe o coração. Madrugada fria, fui até a cozinha e coloquei um gole de café morno na xícara e voltei para o quarto, parando para observar a janela. O luar estava alto, e eu podia ver o topo dos prédios a partir da janela do meu apartamento. Suspirei, sentindo-me sufocada. Voltei a me sentar, depositando a xícara ao lado. Eu me sentia tão só, precisava tanto de alguém ao meu lado... Mas não alguém ausente, um ser presente. Alguém que me abraçasse, que dissesse que não iria embora, e que cumprisse a promessa. Que quisesse me ter pra sempre. Sinceramente, eu estava cansada de correr, fugir, fingir. O soluço veio súbito, e eu não pude contê-lo; nem tentei, pra ser sincera. Enquanto a caneta rapidamente transformava em palavras os meus sentimentos malditos, meu peito se enchia de uma raiva genuína. Dor e mágoa há muito guardados, e quando dei por mim, eu já rasgava o papel. Merda! Joguei a caneta longe, e no rápido movimento, derrubei a xícara com o líquido preto, agora totalmente frio. Observei-o escorrer pelo papel, com uma certa mórbida curiosidade, descobrindo os desenhos que ele fazia, enquanto manchava tudo de marrom. Dos dois buracos negros que eu havia feito, escorriam lágrimas de café, e o sorriso sincero abriu-se em meu rosto. A tristeza estampada no rosto encovado da solidão, impressa em um autoretrato da amante de café: eu mesma. Então eu chorei, em silêncio, deitando a cabeça em cima da mesa, sentindo o coração se apertar no peito, uma dor realmente física, desejando, bem lá no fundo, que eu morressse de um ataque cardíaco. Covarde, eu sabia, mas naquele momento, eu não me importava. E ainda que soubsesse que eu iria estar de pé quando o sol raiasse, fechei os olhos e derramei o café amargo da solidão, vomitei as palavras entaladas na garganta, e esperei pela benção da inconsciência do sono.

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