Não, a chuva não é minha amiga. Nunca foi, e nunca será. A chuva me assusta. Já lhe contei isso, não contei? Você adora pular e brincar na água gelada que cai lá fora. Eu me encolho de medo, cada gota corroendo meu corpo pequeno. Cruzo os braços, abaixo a cabeça, na vã tentativa de me proteger. E eu que achei que agora as coisas tinham mudado... Tola ilusão. Tentei sair correndo na chuva e agora estou aqui, tremendo de frio, nessa noite solitária. Não lhe julgo, doce criança. Sei que está por perto, esperando que eu vá brincar contigo, esperando que eu corra, salte e grite, mas irei lhe desapontar, sem querer, do mesmo modo como me desapontou. Você está por perto, mas não é aquela que segura em minha mão, puxa-me para fora do conforto, e me sorri. Você espera que eu corra sozinha. Pois bem, minha amiga, não posso sair ainda. Os cabelos escorrem, a roupa enxarcada, e o sorriso sumiu. Não leve para o pessoal, é só minha velha amiga insegurança, que de vez em quando resolve aparecer. Você não irá me proteger na chuva, então eu não posso sair. Está frio, tenho medo de pegar um resfriado, mas estou aqui contigo, não estou? Só não me peça para sorrir, já é demais. Infelizmente, enquanto você ri na chuva, eu choro na solidão.