Além de baseada nessa imagem, inspirada principalmente pela música "Bandolins" do Oswaldo Montenegro http://www.youtube.com/watch?v=VemQd1nZdnE
Naquela noite, o barulho da música me embalava. Meu corpo relaxado respirava a melodia, enquanto o fogo que crepitava na fogueira me aquecia. O vento trazia promessas, juntando-se às conversas animadas das pessoas à minha volta. Nada prendia minha atenção, nada era interessante o suficiente para tal. O fogo tremulou, a brisa nos avisou, o silêncio obedeceu, mas nada me prepararia para a cena seguinte. Meus olhos embaçados, eu não conseguia divisar as cores que se balançavam em minha frente. Verde, rosa, azul, laranja, amarelo... Rodando, rodando e rodopiando, tirando-me o fôlego. E aqueles olhos... Chocolate derretido puxando-me para dentro das labaredas ardentes, tirando-me a vida, a força, o ar. Já não havia nada que eu pudesse fazer, já estava perdida. E os olhos, agora fechados, eram escondidos pelos cabelos castanhos que caíam em cachos. O busto subindo e descendo, ao som da música, os ombros indo e vindo, indo e vindo, puxando e empurrando, num doce e ilusório balançar. E ela dançava, os pés delicados tocando o chão empoeirado, uma correntinha em volta do tornozelo direito. A música era eterna, assim como sua dança que me prendia mais e mais a cada segundo. O corpo moreno clamando por ser tocado, beijado, profanado, observado. E outros gritavam, assobiavam, teciam elogios. Não, eles não eram merecedores dela. Não precisavam dela pra sobreviver. Mas eu... Eu gritava, gritos mudos agarrados na garganta, só querendo ser vista, notada. Sempre que ela se afastava, pés mal tocando o chão, meu corpo se convertia para frente, precisando dela. E aqueles olhos... Doces chocolates derretidos, derretendo minhas vontades naquele sorriso esboçado. E com aquele sorriso, eu sabia. Era minha. Ou era dela? Ou éramos uma? Já não sei, não consegui pensar. A melodia dando seus últimos toques, os rodopios cada vez mais lentos, o ar cada vez mais pesado, a temperatura mais quente... Nada mais fazia sentido. Só ela, suas cores iluminando meu céu, seu sorriso me libertando da vida, seus olhos me sentenciando à morte e sua presença prometendo-me uma segunda vida. Se a música parara? Se ela ainda dançava? Rodopiava, rodopiava, rodopiava, e eu já não mais respirava.
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