Essa crônica foi escrita guiada pela proposta de redação imposta em sala de aula, na qual deveríamos escrever sobre uma praia, a calmaria, o sol, e então o tempo nublado e a chuva, utilizando-se de recursos sonoros.
Nada
mais a acalmava daquela forma como o mar. Em dias como aquele, nos quais
precisava acalmar o coração, andava na beira do céu, deitava na areia branca,
espreguiçava tranquila ouvindo o barulho do burburinho das águas. Suspirava,
sentindo os singelos sussurros serpenteando por entre as árvores, suspensos,
sendo carregados pelo vento. Seu coração, que sempre batia forte, tamborilando
em seus ouvidos, querendo pular para fora do peito pequeno, precisava de um
descanso. Fazia tempos que não conhecia outra batida que não a do amor, a da
espera, a da ansiedade. Algumas vezes o tum tum de dentro se acelerava com o
trim trim do telefone, e quase parava por alguns segundos, ao constatar o tu tu
tu tu do aparelho mudo em sua mão trêmula.
Sorriu
tristemente ao se lembrar de tudo o que acontecera até ali. Olhou para o céu,
procurando naquela imensidão azul, uma paz, um sinal de tranquilidade, qualquer
coisa que a fizesse esquecer, nem que por um mero momento. O sol brilhava
forte, os raios sentidos na pele morena a queimavam. Raios, raia, reis,
respiro, respeito, refeito, recomeço. Era o que precisava. Riu com vontade,
saboreando a ironia da razão de estar ali, da razão de precisar de um recomeço.
Precisava mesmo? Na verdade, pouco importava. Dali a poucos dias, sendo qual
fosse sua nova presa, estaria novamente com pressa de se amarrar em alguém.
Olhou
para o mar, contemplando as ondas calmas que iam e vinham, iam e vinham, em um
ritmo cadenciado. Ondas que andavam, gotas que dançavam na crista das ondas,
esperando a hora de quebrar na arrebentação do mar. Subitamente quis entrar
naquelas águas, onde se deixasse levar pela corrente, esperando pela onda que
enfim mudaria o rumo da sua vida. Riu um riso nervoso, riu com vontade, riu de
ironia, riu até as lágrimas caírem e rolarem pelas faces vermelhas. Sendo
sincera consigo mesma, já estava naquele marasmo há muito tempo, já era onda
que ondava de um lado para o outro, indo e vindo, vindo e indo, vivendo,
sobrevivendo, assim meio sem querer. Precisava, necessitava de algo novo, algo
que abalasse com as estruturas do seu pequeno ser. Algo que a fizesse gritar,
correr, pular, amar e se esbanjar, se banhar nas águas geladas e frias daquele
mar que agora começava a se agitar.
Os
ventos não mais sussurravam, sibilavam, suspendendo a calmaria que há pouco
havia. As nuvens começaram a se formar no céu, juntando-se, escuras e negras. O
vento agitando as copas das árvores, enquanto o temporal começava a se formar.
O céu passava por todas as cores de azul, até se tornar escuro, negro, cinza,
arroxeado, apenas com rápidos raios rasgando o céu, iluminando seu rosto de
amarelo. Abriu os braços, recebendo a chuva como se recebe um ente querido que
haja muito não se vê. As gotas geladas caíam-lhe pelo corpo, e o som da fúria
dos trovões e raios inundava-na de alívio, trazendo-lhe redenção. Caiu de
joelhos na areia molhada, olhos abertos, vendo as ondas revoltas se chocando
umas contra as outras, chiando, chocando contra as duras rochas à beira mar. O
estrondo do trovão estremeceu seu corpo moreno molhado, mas ela não sentiu
medo. Abriu os braços o mais que pode, estendeu a língua e deixou que a chuva
chovesse dentro do seu corpo seco. Deixou que a água levasse consigo toda a
secura incrustada em seu coração. Deixou que a chuva trouxesse esperança e
renovação. E chorou, chorou e chorou, enquanto a chuva chovia, chiava, chegava
e mudava sua vida.
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