Nas Suas Águas


Nas Suas Águas

Paciência. O que aprendo agora, o que me esgana nesse exato minuto, e o que me traz para fora da água, podendo respirar enfim, é a paciência. Assim mesmo como veio ao mundo, nua e crua. Sabe, é que assim, eu tenho essa urgência de falar, andar, fazer, pensar, gritar e sentir, tudo ao mesmo tempo, nesse furacão de emoções que não duram nem um segundo; urgência de saber, de querer, de ansiar por uma resposta, um sinal de vida, um suspiro de alívio, qualquer coisa que me mostre que nada foi em vão. Não sei esperar, esse é o meu tão guardado segredo. Não colou? Verdade, não colou. Meu maior segredo, meu maior medo, é pecar pelo silêncio e lhe perder tão facilmente assim. Por uma palavra, um gesto, um silêncio mal colocado, colocar tudo a perder. Sempre vivi assim, correndo, nessa urgência de explicar a qualquer custo, nesse medo insano de perder o que nem possuo ainda. Nunca ninguém reclamou. Nunca ninguém me parou, até você chegar. Parece clichê, eu sei, mas não o é.

Nessa misturas de sentimentos, já me joguei de cabeça nesse mar de amar mais de quatro vezes. Senti que ia me afogar, achei que o mundo fosse acabar, mas nadei e voltei sã e salva para a praia. Para depois pular novamente do penhasco, sem medir a profundidade desse mar. Achei que era tudo ou nada, viver ou morrer, lutar ou se entregar, e me esqueci de que com você, nada é oito ou oitenta. Sobrevivi todas ás vezes, e ao voltar para a praia, abracei-me sentindo o frio do vento que me atravessava o corpo desprotegido. Olhava sem perspectiva para o horizonte. Para onde ir? O que fazer? O que sentir? Não fazia ideia de como me mover, para que lado, o que falar, ou o que ser. Por um momento, congelada, tentei negar a verdade. Tentei me afastar da praia, só me esqueci que a doçura do mar já havia se impregnado em minha pele, e a areia já havia me cegado. Meus pés me trouxeram de volta para essas bandas, sem que eu me desse conta. E sem que me desse conta, eu já estava me preparando para pular novamente. Dessa vez, certifiquei-me de vestir um colete salva-vidas, e fui, pé ante pé, de braçada em braçada, e comecei lentamente a afundar nesse prazer que é lhe amar.

Aos poucos as peças se encaixam nesse grande quebra-cabeça que é a vida, e aos poucos você vem se encaixando em mim. Ainda não entendi muito bem qual peça vai aonde, mas eu sou observadora, sei jogar, e pode não parecer, mas aprendo rápido. Não vê? Já estou aprendendo a, novamente, ter paciência. Ser paciente, observar, passar os dedos pelas curvas do seu corpo, descobrir o seu formato, sua cor, suas dores e alegrias, e enfim entender, compreender-lhe por inteira. E mesmo inteira, saber que há mistérios a serem desvendados a cada dia. Pergunta-se onde estou? Novamente encontro-me na praia. O dia está lindo, o sol não para de brilhar, e o calor me esquenta, alenta-me. O mar está calmo, mas pode se agitar a qualquer minuto, e é aí que está a beleza. Não vejo a hora de correr e me jogar nessas águas profundas, sem ter medo. Quero sua leveza, sua calmaria, e estou morrendo para conhecer sua fúria, sua paixão, sua luxúria, seu medo, seu choro, seu você. Eu lhe quero completa, ainda que incompleta. Quero compreendê-la, ainda que incompreensível. Quero você, apenas quero.

Tudo bem, eu disse que ia ter calma, só me desculpa se ás vezes me exagero toda e meto os pés pelas mãos. Sou assim mesmo, inconstante. Uma mistura de erros, medos e receios, ciúmes, e exageros dentro de um corpo tão pequeno, e uma mente tão grande. Tenho medo, medo extremo, incrível desespero de que não consigas me entender, muito menos me aceitar. Medo de mostrar o que se esconde nas cavidades inexplorádas até por mim mesma. Prometes que não vai embora? Juro me controlar, ou pelo menos tentar. Olha lá, já estou me enrolando de novo. Paciência. Inspira, expira. Insipira, expira. Suspira. Pronto. Continuo aqui, aproximando-me vagarosamente da recassa do mar. Assim, como quem não quer nada, criança levada que só quer brincar nas arraias dessas águas sedutoras. Nas suas águas. Ainda corro o risco de me jogar, e de dessa vez... Não haver salvamento, eu bem sei disso. Apesar de ser cautelosa, quando pular posso não achar meio de voltar a superfície, mas ainda assim, não me importo. Só quero ir. Aceito o risco de me afogar em você. Sem arrependimentos. 


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