Garota Jolie - 4


       
          No outro dia de manhã eu estava sorrindo, sem saber o que esperar. Era a primeira vez que tentava aquilo. Pode ser coisa pouca, eu sei, mas como dizem um olhar vale mais do que mil palavras. Eu nunca havia feito aquilo, geralmente eu teria desviado o olhar.

            Estava sentada na pracinha e a vi chegando, senti meu coração começara bater mais rápido no peito. Ela entrou na sala dela, e eu fiquei ali, fazendo mil planos secretos. Queria conversar com ela tanta coisa! Saber mais sobre ela, sobre o que fazia, o que queria... Essas coisas.

            Logo Camila chegou e nós entramos para a sala de aula. Mas quem disse que eu conseguia prestar atenção? A porta da sala ficava aberta, e como era bem no corredor, toda vez que alguém passava eu olhava, na esperança de ser ela. Aquilo se tornou um hábito.

            Chegada a hora do intervalo, eu e a minha amiga fomos lá à cantina comprar um refrigerante e um salgado, e quando voltávamos, eu vi que a Priscila vinha chegando. Andava, como sempre, sem olhar para os lados, sensualmente. Seria só eu que a via andar daquela maneira?

            Mudei o meu curso, e Camila nada disse. Cruzei com a Priscila. Olhei diretamente em seus olhos e ela olhou dentro dos meus. Foram apenas segundos, mas, para mim, foi muito mais do que isso! Senti meu coração bater acelerado. Sempre ouvi sobre olhares significativos e lamentava-me por nunca ter tido um.

            Bem, agora eu tinha. Fiquei um tempo sorrindo, enquanto minha amiga ria da minha cara de boba apaixonada. Era estranho... Eu não via diferenças no olhar dela, do tipo apaixonado, com raiva, curioso, nada disso. Mas, conseguia enxergar algo profundo. Magnético.

            Provavelmente vocês devem estar cansados de tanto entra e sai da sala de aula, mas era o único momento em que eu podia vê-la. Não tinha nenhum outro tipo de contato, por isso contentava-me em vê-la na faculdade. Era angustiante esperar um dia inteiro para poder contemplá-la, mas fazer o quê? Não havia outro jeito.

            No outro dia, eu estava parada na porta da minha sala e vi que ela iria passar por mim. Senti um frio na barriga e quando ela passou, olhei bem dentro dos olhos dela. Ela olhou dentro dos meus. Acho que seus olhos eram pretos... Talvez de um castanho bem escuro, não sei definir.

            Passaram-se dias, somente nesses olhares. Minha boca chegava a se abrir para dizer pelo menos um ‘oi’, mas eu congelava e nada saia. Apenas tinha coragem de olhá-la. Desejá-la. Ela tinha uma enorme presença, quando chegava por perto eu amolecia e ficava sem reação, a não ser tentar sorrir.

            O que eu achava mais estranho era que ela sempre retribuía meus olhares. Olhava de volta, na mesma intensidade. Finalmente havia conseguido captar sua atenção. Também não sei como eu podia sustentar o olhar, talvez porque não queria ficar parada no mesmo lugar novamente, como sempre fazia. Precisava tentar, agir, flertar, olhar, falar. Somente desejar, no meu mais secreto íntimo, nunca faria com que ela retribuísse ou percebesse alguma coisa.

            E então, em uma quarta-feira, eu estava esperando dar o horário da aula, sentada em um dos bancos de pedra. Estava um dia nublado, e muito frio. Como toda vez, vi-a chegar e andar até sua sala. Os outros alunos chegaram, e nada da professora. Estávamos esperando, quando nos disseram que a professora havia faltado, por motivos pessoais, e não tinha dado tempo de avisar antes.

            O pessoal resolveu ir embora. Eu iria também. A essas alturas, já tinha me conformado de que não a veria mais naquele dia. Entrei em minha sala e liguei para o meu pai me buscar. Enquanto esperava, peguei um livro e sentei em uma das carteiras, fiquei lendo e esqueci-me do tempo. Dali alguns minutos, meu celular tocou. Era minha mãe dizendo que já estava me esperando no carro, na entrada da faculdade.

            Peguei minha mochila e sai da sala. Enquanto andava no corredor, tentando pegar minha carteira na bolsa, vi que a Priscila vinha em minha direção, íamos nos cruzar. Senti meu coração começar a bater mais rápido. Estávamos sozinhas no corredor. Eu sabia, aquele era o momento, se eu não fizesse nada, nunca mais conseguiria.

            Eu já tinha parado, em frente às catracas, quando ela passou ao meu lado. No momento exato que passou, não sei como consegui. Abri um sorriso no rosto e disse:

- Oi. – ela olhou para mim, sorriu e retribuiu:

- Oi. – e continuou seu caminho.

            Passei pela catraca, com um sorriso iluminando meu rosto. Entrei no carro e coloquei meus fones no ouvido, escutando música, sem conseguir parar de sorrir. O sorriso dela era lindo! E eu era uma apaixonada por sorrisos. Fiquei passando aquela cena na minha cabeça por várias e várias vezes.

            Acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida. Ela foi super simpática, totalmente diferente do que eu havia imaginado. Ela retribuíra o meu cumprimento, sorrira, não foi um bicho de sete cabeças. Mas agora que eu havia conseguido dizer algo, não iria mais desperdiçar minhas oportunidades. 

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